sexta-feira, 30 de abril de 2010

Geógrafo

Você sabe desenhar e interpretar mapas
E neles traça inenarráveis rotas
Munido apenas de seus pés, mochila, cantil,
E de uma direção qualquer, fornecida pela intuição.
È o instinto que lhe revela os horizontes mais variados,
Conhece a Caatinga e os Pampas,
A Amazônia e os Cerrados,
A Mata Atlântica e seus biomas associados.
Além de ter apreciado o Pantanal.
E isso tudo instiga de tal forma a curiosidade,
que sente inevitável vontade
De, empiricamente, conhecer novas culturas, pessoas, sociedades,
E também de deixar os seus rastros em territórios estrangeiros.
Não sem dor, carrega o fardo da história de sua ciência,
E sabe muito bem do inglório passado das guerras contemporâneas
Conhece os motivos atuais dos conflitos,
Como a disputa pelo ouro negro,
O desespero pela água,
O tráfico de drogas, armas... o contrabando,
A especulação imobiliária, os problemas fundiários
E a eterna disputa pelo poder supremo.
Apesar de conhecê-los tanto, é fato,
Jamais irá entendê-los, compreendê-los.
Você conhece a realidade do desaparecimento das culturas,
E das diversificadas etnias,
Sabe sobre a mundialização do indivíduo, e da alienação generalizada.
Conhece de perto as desigualdades sociais do seu país.
Sente nojo da opulência dos ricos,
mas as vezes, come com eles dos mesmos manjares,
e freqüenta os mesmos lugares.
Noutras vezes vai ter com os pobres e miseráveis
Uma conversa sobre sua luta diária em busca de pão, cigarro e um sorriso
E com eles divide um pedaço de queijo, outro de lanche,
Partilha com eles as esperanças de um país melhor.
Você sabe da devastação florestal, da extinção das espécies
E a iminência de nos vermos a sós no planeta.
Do aquecimento global e seus conseqüentes efeitos
Nas geleiras, nas calotas e nas praias.
Sabe como ninguém dos perigos de um colapso ambiental.
Ainda assim acredita em mudanças profundas,
É por elas que diariamente você protesta, xinga, luta.
Por acreditar num mundo melhor,
Você estuda, pesquisa, divulga, discute.
Por crer nesse nosso país, quer dar aulas,
E ensinar os alunos a fundamentar as críticas à sociedade,
A propor novidades e exigir melhorias.
Quer aprender com o brilho dos olhos deles a sonhar inocentemente,
E enxergar nesses sonhos o futuro que juntos almejam.
Assim é você, geógrafo, conhecedor do país e do mundo
Um militante em prol da humanidade. Da vida!
Da sua, nossa vida! E você vive intensamente.
Por isso tanto se diverte. E bebe, e fuma, e festeja,
Ri alto, ri alegre, ri verdadeiro.
É tachado de louco, inconveniente, transviado, sonhador.
Não importa. Também assim rotularam seus mestres.
Siga sempre...
E não ligue. Compreenda que para essas pessoas que rotulam,
A vida é fria e triste.
Ela se resume a um dia acomodado no sofá!

Texo de Henrique Ramos (Maza), um estudante da geografia que ainda não tive a oportunidade de conhecer.

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