terça-feira, 6 de julho de 2010

A Nestlé ja entendeu que bolsa-família vira bolacha recheada, enlatado e papinha pra criançada.

A Nestlé, associada à Caixa Econômica Federal abriu um "mercado flutuante na Amazônia.
O negócio consiste num barco que levará cerca de 300 diferentes produtos da marca Nestlé pelo rio Pará, atendendo 18 cidades do estado paraense na intenção de vender os produtos às populações ribeirinhas que antes não tinham acesso as maravilhas da marca.



Coloque 50 reais mensais nas mãos de um brasileiro que ganhe cerca de 500 por mês para viver. Agora pense.... Ele faz uma poupança ou gasta a grana no mercado?... A resposta é óbvia, fome não é brincadeira. E se de mercado este brasileiro estiver numa boa, ele compra uma 21 polegadas pra ver a Copa num telão.

A Nestlé, apostando no mercado, decidiu investir nos comedores de peixe do Pará.
A jogada é simples, o barco fica parado um dia em cada cidade vendendo papinha pra criança, matinais, sorvetes, ração para cachorro e etc.
A consequência é fatídica.
A criança acostumada a comer peixe com farinha de mandioca, verá o coleguinha comendo uma bolacha passatempo (sou viciado nela), e óbviamente chorará pra que sua mãe lhe dê uma.

O mais engraçado é que enquanto lia esta notícia sobre o tal mercado marítimo, me lembrei de uma que havia lido a pouco tempo atrás, com o título de "A pressão da vida moderna" no site da Fapesp.
Nela o médico e antropólogo Hilton Pereira da Silva diz sobre as altas taxas de hipertensão arterial na população de três comunidades rurais do Pará que gradativamente deixaram o extrativismo e começaram a usar bens de consumo tipicamente urbanos.
O pesquisador acompanha desde 1996 a população no Pará e identificou que a taxa de hipertensão na região é hoje equivalente à verificada nos moradores de cidades de médio para grande porte.

Agora a bomba. E não sou eu quem diz. É o pesquisador:

"Quando ocorre a transição para o estilo de vida moderno e urbano, a primeira mudança é a dieta". Aumenta o consumo de sal, de enlatados e de comida industrializada, cheia de aditivos químicos. [...] As mudanças na dieta e nos hábitos de vida estão causando uma mudança gradual na fisiologia do organismo que leva à hipertensão.

Bingo!

A Nestlé entendeu o recado, e como uma boa empresa solidária, continuará a levar a hipertensão ao estado paraense, atendendo regiões que nem água encanada tem, mas tem televisões ligadas em baterias de carro, onde a Nestlé pode usar e abusar das propagandas que fazem a criançada ter água na boca e esquecer de vez da peixada.

O mais irônico disso tudo é a profundidade do comentário no site do estadão na materia sobre o mercado...o internauta desatento palpitou:

"Lindo maravilhoso... Só falta agora a Nestlé nos brindar aqui no Brasil, com mesma qualidade de produto, que ela pratica no exterior.
KCT, tou cansado com alimento com gosto de parafina."

E viva a pressão arterial!!


A matéria completa da Fapesp está no site: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=2108&bd=1&pg=1&lg=


E a do estadão saudando o novo mercado, aqui: http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,nestle-monta-mercado-flutuante-na-amazonia,23690,0.htm

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