segunda-feira, 26 de julho de 2010

O malandro e o "empresário".

Num post anterior, falando sobre polícia e ladrão, me propús a dar meus pitacos sobre os motivos para existir esse senso comum de que "o Brasil é assim ou assado devido a falta de segurança policial".



Depois do post, extremamente indignado, tenho tentado colocar no papel minhas idéias sobre essa idiotice.


Num país que gasta menos de 1,5% de seu PIB com educação, falar de falta de polícia é risível, se não fosse trágico.

O pior, como disse, é ouvir uma idiotice dessa de alguém da periferia, que vê todos os dias a truculência policial na suas ruas, revistando grosseiramente meninos de 12 anos que jogam bola tomando geladinho com a grana que angariaram plantando flores nas covas do cemitério Girassóis na periferia de osasco.



Chico Buarque, outro bohemio que admiro, brinca com essa idéia de forma bem deescontraída em sua canção, "O Malandro".


Na letra, acompanhamos uma história que começa com um malandro qualquer sentando à mesa de um estabelecimento comercial enquanto toma sua cachaça.

Servido e satisfeito, o cara toma a birita num gole e, sem pagar, parte na corrida.

O garçom fica no prejuízo, e consequentenmente aplica um calote em seu patrão, o Português.

O patrão passa o prejuízo pro distribuidor, que o passa para a empresa de frete, que passam pro alambique, que por sua vez dão calote no usineiro, que passa o prejú pro Banco do Brasil, até que enfim todo o prejuízo cai nas mãos do Português que congela a mesada do pobre garçom.

....E o graçom, no prajuízo, vê o malandro na rua, e sai gritando: "pega ladrão".

O ladrão é autuado, e levado para prisão.

....justiça seja feita!


Numa organização quase que institucionalizada de calotes e trambiques, o 'ladrão' é o malandro da rua, da ponte.

Há anos vemos esquemas de corrupção das loterias, do bingo, dos cigarros, dos frigoríficos, dos carros clones, etc. E o preso, quem é?

Numa empreitada para apreender drogas, muitas vezes o único preso é o caminhoneiro (?)...

Precisamos de polícia, ou de que a legislação seja realmente aplicada para todos sem discriminação social?

Precisamos prender mais batedores de carteira, e continuar deixando os colarinhos brancos livres para assaltar o país através de seus notebooks? Bem acomodados nos bairros nobres, sonegando impostos e transando mercadorias ilícitas através de despachos por email, 'pagando' de empresários sérios?


Quem é, definitivamente, o ladrão?



Tá aí a letra e vídeo da música, boíssima por sinal.





O MALANDRO

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita(ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber

A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega arrego/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçom

O garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, muito inteligente e construtivo!

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  2. Muito obrigado caro anônimo. Seja muito bem vindo às discussões problemáticas desse portal de grosélhas.

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