quinta-feira, 27 de maio de 2010

José Serra nos dá uma lição de como não se fazer Política. Ou de como fazê-la com "p" minúsculo.

O post anterior sobre o Serra foi uma brincadeira surgida a partir de algumas idéias que tive em conversas sobre a lei anti-fumo, os episódios deprimentes de repressão policial na USP em 2009, e outras coisas mais sobre o governo Serra... Créditos à conversa com o Prof. Dr. André Roberto Martin.

A relação existente entre esses dois episódios citados foi que em ambos os casos o sr. José Serra conseguiu desagradar a gente que normalmente vota nele.

Me explico nest post com o caso da repressão policial, e num próximo post tentarei sistematizar opiniões sobre a lei anti-fumo.

Vamos lá:



Quando da greve na usp de funcionários, alunos, e professores (que tbm são funcionários, embora não pareçam gostar da distinção), havia nas exigências dos sindicatos de ambas as categorias, propostas sobre carreira e questões salariais. Reclamações comuns a qualquer categoria.

A greve geral começou efetivamente após a fatídica invasão da tropa de choque na USP e a porradaria que se sucedeu.

Foi um dia de manifestação que reunia apenas algumas centenas de pessoas entre estudantes e funcionários em geral - incluindo professores - concentrados num dos portões da USP. O portão principal é óbvio...
Havia faixas e gritos de protestos os mais variados. Estavam ali tanto os apenas curiosos, a fim de ver no que aquilo tudo ia dar. Como aqueles que vêem nos movimentos de contestação sempre uma possibilidade de mudança, e queriam ajudar, compor a massa.
Entre esses há de tudo, marxistas, anarquistas, utópicos variados e, óbviamente, os que representam algum partido político normalmente de esquerda. PCO, PC do B, PSOL...

A porradaria intensa não quebrou o movimento. Pior, fortaleceu...
Os estudantes recuaram na base da borrachada e do famoso gás de pimenta, aquele usado "para temperar a ordem", como cantou o Nação Zumbi na expressão magnífica de Chico Science.

Ruas e ruas da cidade universitária tomadas pelos policiais do choque num movimento verdadeiramente de guerra, sem dó, e sem reação é óbvio.... É difícil bater em policiais com livros....






Os estudantes conseguem impor algumas barricadas, tomando ao menos algumas vias próximas aos prédios que compõem as faculdades de humanas na cidade universitária...

Parte dos estudantes dormiram nestas barricadas, e quem estava em casa pode assistir a péssima cobertura do Datena sobre o evento. E a infeliz redução do movimento a uma “treta com policiais”

No outro dia..., a resposta.

Professores, alunos e funcionários indignados.
Excluindo é lógico a parcela de alunos e estudantes alienados, assistindo e dando suas aulas como se a tropa de choque na universidade fosse coisa comum...

Triste dizer, mas estes "alienados" eram maioria.

Não são de tudo culpados. O Movimento Estudantil está estagnado numa politicagem que eu chamaria de"cabrera". Mas isso cabe em outro post.

A reitora na época, Suely Vilela, responsável primeira pela chamada da polícia, foi alvo de expressões e xingos que ela talvez nem conheça... Faltou pedir a cabeça dela na assembléia de professores...

A greve continua por mais um tempo e algumas vitórias são efetivadas. Certo aumento e outros benefícios poucos.

Acaba-se a greve, acaba-se o ano, muda-se o reitor.

O reitor é escolhido pelo governador a partir de uma lista de 3 candidatos votados num conselho universitário que compõe 320 votantes entre alunos, diretores e outros.
Ou seja. Os 320 podem votar em qualquer professor titular da usp que queira ser reitor. Os três primeiros colocados vão para a mão do governador de São Paulo, que elege o reitor ao seu bel prazer.

Acontece que desde o fim da ditadura militar os governadores sempre escolheram o primeiro da lista para ocupar o cargo, demonstrando espírito democrático. Mas Serra, o "economista", escolheu o segundo colocado da lista, elegendo o sr. Dr. Magnífico Grandíno Rodas. Personagem que fora diretor da faculdade de direito e que como seu mestre Serra, também colocou a polícia dentro da faculdade.





É óbvio que isso gerou e está gerando um debate. Lento...mas acontece.
E nesse contexto de debate, a greve.

Os funcionários da USP estão em novamente em greve desde o último dia 5.

Alunos e professores continuam suas aulas. Mesmo sem datas-show, restaurante universitário, biblioteca e tudo o que os funcionários administram...

Os estudantes da faculdade de direito tem fama de serem reacionários, partidários do PSDB, DEM e companhia. Só que dessa vez Serra ta pisando no pé....

Os estudantes da faculdade de Direito, a São Francisco, estão indignados com o Reitor, elegido por Serra.
Coloco a carta destes estudantes aqui, pois valerá mais a leitura do que uma explicação minha:

Carta dos estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo a toda a comunidade acadêmica

Caros Colegas,

Ao longo dos últimos anos, fomos obrigados a conviver com um desrespeito quase que diário a valores fundamentais, como a liberdade e a democracia, e é sobre esse desrespeito que queremos tratar aqui. Um desrespeito que de tão grande deixou de atingir apenas a nós, alunos de direito, e passou a atingir toda a comunidade da Universidade de São Paulo.

Em 2007, logo no início da gestão do então diretor da faculdade e hoje reitor da Universidade, Prof. João Grandino Rodas, fomos obrigados a aceitar uma reforma de grade atribulada, marcada pela pressa e pela falta de diálogo, e a ver a tropa de choque entrar em nosso pátio, acontecimento que não se repetia desde a ditadura militar. Em 2008, por muito pouco não assistimos a instalação de catracas e câmeras de segurança nos corredores de nossa faculdade sem qualquer discussão prévia. Ano passado, último ano de gestão do Prof. Rodas, ao iniciarmos as aulas, fomos surpreendidos por uma reforma sem prestação de contas. Além disso, presenciamos decisões administrativas no mínimo duvidosas, como o fechamento repentino da faculdade em plena semana de provas e a aceitação de uma “doação” que exigia uma contraprestação envolvendo duas salas, sem que isso passasse pelo processo administrativo previsto no estatuto da universidade. Porém, foi no inicio deste ano que a faculdade sofreu o maior de todos os atentados contra a democracia e a dignidade de seu patrimônio.

Em janeiro de 2010, no último dia de gestão do Prof. João Grandino Rodas, três portarias secretas foram baixadas. Elas determinavam a nomeação de duas salas, assunto que ainda estava em pauta na Congregação, e a transferência das nossas bibliotecas para um prédio anexo próximo à faculdade. Em três dias, nossa biblioteca com mais de 160 000 volumes foi encaixotada sem qualquer ordem ou cuidado, e transferida para um edifício sem a menor estrutura. O prédio, que se localiza na Rua Senador Feijó, nº 205, e que convidamos todos a conhecer, não possui ventilação, sistema de segurança e laudo que afirme ser a estrutura capaz de agüentar o peso de tantos livros. Possui vazamentos, fios desencapados e animais mortos que trazem risco constante, não só ao nosso patrimônio, mas a saúde dos funcionários que lá trabalham. Nossa biblioteca, que foi construída ao longo de 185 anos e que é considerada hoje a maior e mais significativa biblioteca jurídica do país, permanece encaixotada e inacessível. Nossos livros, que são o centro de toda a atividade acadêmica da Faculdade, estão sob as piores condições possíveis de conservação, muitos estão molhados devido a um cano que estourou e vários já sofreram danos irreversíveis.

Em abril, diante de um pedido de alunos e professores integrantes de uma comissão formada para discutir os rumos da biblioteca, o atual diretor da faculdade, Prof. Antonio Magalhães Gomes Filho, determinou a volta de parte do acervo para nossa sede. Por conta disso, a reitoria da USP começou a ameaçar a Faculdade de Direito. Ameaçou diminuir concursos para docentes, reduzir nossas verbas, tomar nosso prédio e, ainda assim, a decisão tomada pelo diretor, que mais tarde foi complementada e reafirmada por uma ordem judicial, foi mantida.

Diante dessa resistência às ameaças, o vice-diretor, Prof. Paulo Borba Casella, aproveitando-se de uma sexta feira em que nosso diretor estava hospitalizado, tentou de forma ilegítima revogar as ordens que determinavam a volta dos livros ao prédio histórico da faculdade. Graças à mobilização de diversos professores, não vimos um golpe na Faculdade de Direito.

Neste grave contexto, alunos, professores e funcionários uniram-se, nesta quarta feira (11/05), em um ato público que contou com a presença de mais de mil pessoas. Protestamos contra o que vem acontecendo e deliberamos sobre uma paralisação estudantil inédita na São Francisco. Fomos atingidos no centro do patrimônio público e no centro de nossos ideais. Não podemos e não vamos tolerar atentados tão graves à legalidade e à democracia dentro da Universidade. Exigimos o acesso às nossas bibliotecas, a renúncia do atual vice-diretor e a responsabilização e manifestação pública do Reitor e dos demais culpados pelos danos causados a este acervo.

Não somos contra transformações no espaço da faculdade, como veiculado pela grande mídia, muito pelo contrário. Sabemos que melhorias são necessárias. Entretanto, acreditamos que essas transformações devem ser fruto de um processo marcado pelo diálogo e pela transparência. Por conta da falta destes é que hoje somos uma faculdade sem biblioteca e, por pouco, não nos tornamos uma faculdade presa ao autoritarismo.

Os acontecimentos que presenciamos nos últimos anos culminaram com uma clara manifestação de desrespeito a um dos maiores patrimônios públicos do país. Sendo assim, esperamos que esta carta não seja apenas um relato da nossa ultrajante história recente, mas seja, também, um grande protesto contra a forma irresponsável como vem sendo tratado o patrimônio intelectual e material da Universidade de São Paulo.

Atenciosamente,

Alunos e Alunas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Para mais informações e fotos do acervo acesse:

http://182-21.blogspot.com





É por isso que Serra pode estar cavando sua cova, arrumando inimigos até onde antes era o seu reduto....

E é por isso que digo: Serra não fez bem à educação, não fez bem à política, e não fez bem à democracia.... Mas ta difícil resolver isso no voto. Os que fizeram, fizeram pouco, ou quase nada.

Apenas 2% dos estudantes universitários no Brasil são negros, num país onde de acordo com dados do IBGE, pretos e pardos formam 45% da população...

No Sudeste, 82% dos estudantes do ensino superior freqüentam instituições particulares. Numa região onde a renda média é cerca de R$ 1.000 e aquele que faz faculdade a menos de 500 reais está possivelmente condenado a ter um diploma que não será levado tão a sério.

Quem paga o ensino público dos 18% ???

Pretos, pardos e pobres do Brasil. Uni-vos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário